Se todo mundo é escritor, ninguém é escritor

Letícia Arcanjo
2 min readJul 25, 2023

Ou: como se destacar em uma internet onde todos produzem conteúdo?

Se você escreve (ou já pensou em escrever) algum tipo de conteúdo na internet, talvez tenha se perguntado se realmente vale a pena.

Temos dois problemas aí:

Por um lado, todo mundo “escreve”. As pessoas descobriram que expressar suas ideias através de textões nas mais variadas redes pode ser um jeito fácil de se destacar profissionalmente, ganhar um certo reconhecimento em bolhas específicas, ou simplesmente sentir que estão protestando contra algo.

Por outro lado, os conteúdos em vídeo ganham cada vez mais força. Parece que o mundo inteiro está sendo tiktokizado: onde quer que você olhe, vai surgir um vídeo curto em autoplay tentando segurar sua atenção através de uma carga inesperada de dopamina.

Num cenário como esse, será que alguém ainda pára para ler textos? E, pior ainda, textos longos que não sacrificam a construção das ideias para se encaixarem numa otimização SEO?

Se você quiser produzir algo relevante, primeiro terá que vencer uma competição desleal com o modelo do tico e teco. Depois, vai precisar travar uma batalha ainda maior: fazer o leitor gostar do seu texto a ponto de clicar no botãozinho de seguir e voltar para ler mais.

Esse, meus queridos, é um desafio e tanto. Para que fazer tanto esforço?

Não sei, na verdade. Mas tenho algumas pistas.

Como dizia Bruno Tolentino, “Imaginar-se autor parece-me tamanha petulância que, desde que me entendo, tento fingir que sirvo para alguma outra coisa! Não tem adiantado muito, mas à medida que ia aceitando o inevitável, descobria que talvez tivesse mesmo que arcar com o estranhíssimo ofício.”

A resposta está por aí. São os ossos do ofício.

No meu caso, eu poderia passar a vida toda escrevendo só para mim mesma. Poderia me poupar da exposição, das críticas, ou mesmo da completa indiferença. Mas não seremos cobrados no céu pelas nossas omissões? Pelos talentos que guardamos?

Então, essa é uma batalha que deverá ser travada. Escrever o que penso e tentar abrir caminho por esse mar de conteúdo, de dancinhas duvidosas a textos muito mais fluidos e “engajantes” que os meus.

Se você também sente que precisa fazer algo relevante da sua vida, compartilhar seus talentos com o mundo e, quem sabe, ajudar alguém no processo, vamos lá, não se acanhe.

Me faça companhia nessa jornada. Enfrente o algoritmo. Desafie o teco teco. Tenha fé que nem todas as almas foram corrompidas pelos textos com uma frase por parágrafo.

Não guardemos nossos talentos só para nós. Deus nos presenteou com eles por algum motivo, não é? Vamos descobrir qual.

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Letícia Arcanjo

Existem mais coisas entre o homem e a compra do que sonha a nossa vã filosofia.